O juiz entra na sala. Passado o ritual idiota de toda a gente levantar-se e depois sentar-se só levantar o ego ao cabrão do juiz, abre-se a sessão. São as alegações finais.
Não sei porque caralho estou no tribunal neste dia. A minha mãe lá me arrastou. "Filho, tens que ver isto!". Mas que bela prenda, obrigar o filho de 10 anos a assistir à resolução de um casozeco banal. E nunca percebi o raio das togas pretas. Levanta-se o gajo da acusação:
"Ao longo deste julgamento mostrámos a culpabilidade do réu na profanação do património do condomínio afectado. Deliberadamente, pintou um passeio, sem pensar nas graves consequências seguidas. Pedimos 15 penas perpétuas, uma por cada caracter por este acto infantil, imbecil e vândalo."
Nisto, aparece um jornalista iraquiano e entre impropérios "imberberes"* (lol) atira um sinal das obras à cabeça do advogado de acusação. Sem os reflexos de um Dubya, este recebe um golpe forte, mas aguenta-se. A dactilografa exalta-se e pula do seu lugar, bamboleando o seu farto peito. Subitamente, a minha voz muda.
"Toma atenção, filho, tens que estar preparado para isto.". A minha mãe não bate mesmo bem.
Segue-se a advogada de defesa. "Pedimos a absolvição. Não há provas suficientes para a incriminação do meu cliente, sendo a única um testemunho delator e duvidoso. Mas partamos do princípio que o meu cliente é culpado. Que acto foi este senão algo fofo, querido, giro, mimoso, amigável, lindo, bonito, maravilhoso" (a gaja começa a debitar uma lista de adjectivos interminável, quando retomo a atenção está a soluçar)"Só a mim não me fazem destas coisas. :("
Que carente exagerada. São sou palavras num passeio.
Ouço um arroto enorme mas distante, vindo de fora do tribunal. Como se um tiranossauro tivesse acabado uma refeição de autocarro escolar.
O juiz, farto de tanto extremismo, interrompe. "Pó caralho. Advogados, deixem-se de exageros. Condeno o réu a 5 horas de trabalho comunitário. Pena suspensa já que o seu acto levou à ira de uma vizinha histérica, o qual conta como atenuante segundo o artigo 78436/452 de 31 de Junho." A dactilógrafa solta o cabelo e ajeita a saia, revelando um cinto de ligas. Entro oficialmente na puberdade.
"Algures no mundo" continua o juiz "está alguém a pisar uma mina anti-pessoal e a bater o recorde do salto em altura. E vocês aqui a preocuparem-se com parvoíces. É Natal. É dia de estar com a família. De comer bacalhau. De ver o sorriso dos putos a abrir as prendas. De acabar a noite com uma puta a dançar em cima de nós no Pérola Negra." O juiz termina a sessão atirando o martelo à advogada de defesa, poupando a já lesionada cabeça do advogado.
"Vês, filho? Olha e aprende!" A minha mãe insiste.
Nisto a parede cedo e o tecto voa. Um pai natal gigante aparece e grita "Cérebros!". Duma vez, apanha 7 pessoas da audiência e come-as - curiosamente todas de raça negra.
"Vês, filho? Olha e aprende!" A minha mãe permanece serena. Farto deste filme, desligo o visor da realidade virtual. Os programadores desta merda não batem mesmo bem.
Moral da história: entendam-se uns com os outros, tratem dos vossos sonhos, trabalhem, porque um dia um sinal de trânsito, um martelo ou um pai natal gigante hão-de tratar-vos da saúde.
Felizes festas. =) Jingobeles para todos os vós. (sim, já passou o dia mas o Natal só acaba no dia de Reis, incultos de merda)
*trocadilho entre imberbe e berbere, um bocado forçado já que os berberes são do Norte de África, longe do Iraque. O mesmo que aqueles imbecis que chamam árabes aos iranianos.