sábado, 24 de novembro de 2007

Uma casa velha, sem sinalização do espaço à porta - é descoberta através do som que sai lá de dentro. Uma sala iluminada a candeeiro; enormes amplificadores rodeiam a bateria e restantes instrumentos. A mesa de merchandising a um canto; posters e tshirts revelam o estilo faça-você-mesmo. Uma entrada com o custo de 0€, agradecendo-se o donativo, recebido numa caixa de dvds, com um valor deixado ao critério de cada um. Duas bandas em digressão pela Europa, a partilhar o seu som e sem sinais de vedetismo.

Ainda vibra as memórias, o concerto de SUMA de quinta feira, dia 15 passado, na Casa Viva. A sonoridade da banda sueca reside no doom/sludge com laivos do "arrastamento" do drone à boa maneira dos Sunn O))). Os temas do excelente "Let The Churches Burn" tiveram uma representação ao vivo mais que digna, através do terramoto ensurdecedor dos amplificadores. A guitarra e o baixo pegavam o público literalmente pelas goelas, estremecendo cada corpo espectador. O vocalista com a sua subtil e não exagerada teatralidade enriquecia a entrega através duma lanterna – servindo igualmente como amplificador nalgumas vozes - com a qual improvisava um rudimentar mas eficaz jogo de luzes sobre o resto da banda. A hipnótica força e energia do baterista, castigando os seus tambores e pratos, completava o apocalipse sónico que abanou os alicerces da casa portuense. À violência do tema homónimo e de “Beef” contrastava a calma inicial e consequente explosão de “I Am The Spiritual Sheperd”.

A humildade da banda ficou patente no encore inesperado, pedido pelo satisfeito e insistente público que não permitiu a sua saída do “palco” – o baterista, dado o desgaste físico óbvio para quem lá esteve, teve mesmo de sair para repor forças durante esse intervalo. Mais ficaria patente na conversa com elementos da banda mais tarde. Através da compra de um poster e uma tshirt e de um acompanhante de concertos mais conversador e descarado que eu, tive oportunidade de trocar impressões com a banda, sobretudo com o vocalista que, entres outras curiosidades, nos revelou da origem da lanterna-amplificador antes referida, proveniente de uma loja para crianças.
Igualmente humildes e conversadores foram os elementos da banda de abertura croata Chang Ffos. Tal como a banda sueca, pude partilhar gostos e recomendações de bandas, além de descobrir mentalidades e aspectos da vida daqueles países. Banda esta que abriu da melhor maneira o serão, num registo ligeiramente mais directo da que se seguiria, mas também ela devastadora sonicamente.

Descubram estas bandas, valem a pena. Se não encontrarem-nas na Internet, contactem por aqui que o link para download lhes será fornecido (antes que agitem bandeiras contra a pirataria, as próprias bandas agradecem a sua “divulgação ilegal”).

Descubram também o espaço da Casa Viva. Saiam na estação de metro do Marquês e procurem um número 167, ao lado da igreja. Os concertos costumam ser gratuitos mas não se esqueçam, o donativo é merecido. Dado o horário habitual – das 7 e tal da tarde, cessando qualquer barulho por volta das 10 da noite – nada melhor para um princípio de noite.

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